domingo, 17 de março de 2013

Tarja Preta

Há um tempinho que convivi com uma professora em depressão. Convivi não, né, porque ela ficou afastada quase seis meses, só na tarja preta. Na outra escola, a pedagoga já começou o ano afastada, com a tal da depressão, também só na tarja preta.
As pessoas saudáveis não conseguem mensurar o que é uma depressão e, por isso, fazem pouco caso, julgam a pessoa como fraca, fresca, como alguém que quer chamar atenção... Eu até acho um pouco isso às vezes e vou dizer o porquê.
Já tive depressão, pelo menos duas vezes antes de ser adulta. Só que na época isso ainda não era considerado doença. Na verdade, só sei que tive isso porque hoje leio sobre o assunto e reconheço os sintomas que tive na ocasião. A última que tive durou um ano. Eu trocava a noite pelo dia, literalmente, pra não ter que conviver com ninguém. Acordava as 17h ou 18h, ligava a TV (ou o computador) e ficava até as 5h do dia seguinte. Não tinha vontade de comer, de tomar banho, de falar com ninguém, de sair..... E a coisa foi piorando, e ninguém percebeu o que era. Achavam que era só uma adolescente querendo atenção. Pois não era. Cheguei a desejar morrer, várias vezes. A sorte é que sempre achei o cúmulo da covardia tirar a própria vida. Mas entendo quem recorre a isso. Depressão é algo tão sinistro que a gente simplesmente não vê meios de sair do fundo do poço.
O mais surpreendente é que, apesar de tudo, eu me recuperei. Sozinha. Sim sim, sem ajuda de terapeuta, sem remédio, sem ninguém. Contei apenas com Deus e com a minha vontade de sair daquela situação horrível. E, claro, com os poucos (e melhores) amigos que tenho.


Foi muito ruim, sem dúvida, mas ouso dizer que, superada a crise, me fez bem, porque me levou ao auto-conhecimento. Vi que sou mais forte do que suponho, amo mais a vida do que parece e tenho por perto pessoas que valem a pena. Quem teve depressao uma vez estará sempre sujeito a ter de novo. É quase como uma falha que fica no cérebro. E ano passado senti essas coisas novamente, esses sentimentos negros, que nos puxam pra baixo, sabe. Mas ao invés de me esconder na tristeza, fui em busca da felicidade nas coisas simples, no pequeno prazer de um livro novo, num passeio no parque, na risada com os amigos.. Aliás, é o que tenho feito desde então. Porque às vezes a tristeza vem sem nenhum motivo aparente (para os outros), e se eu não cuidar de mim mesma, se não encontrar por mim mesma motivos pra ser feliz, vou acabar dependente da tarja preta. E isso eu não quero mesmo.
 

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