domingo, 9 de março de 2008

Contos de Fadas diferente (por Martha Medeiros)

Era uma vez uma menina que, ao virar mulher, descobriu que casar era tudo o que a família esperava dela. É claro que seus pais ficavam felizes com suas boas notas na escola e com a carreira que ela havia escolhido, mas o que eles mais queriam saber, juntamente com os avós e as tias, é se ela havia conhecido alguém interessante na festa da noite anterior, e se este alguém viria a se tornar um namorado. A moça tinha sonhos de viajar, conhecer outros lugares, e a família dizia que ela conheceria quando partisse em lua-de-mel. A moça tinha vontade de dar mais intensidade à sua vida, e os familiares diziam que ela daria, assim que tivesse filhos. A moça pensou em seguir carreira política, depois pensou em ser voluntária num país africano, depois cogitou em fazer um curso de paraquedismo, mas sempre era desencorajada: "em namorar, que é bom, essa garota não pensa".

Pensava sim, e namorou o Mateus, o Luis, o Jairo, o Renato, o André, o Ruy e o Vinicius. "Quando é que você vai escolher um pra vida inteira?" Ela respondia que não acreditava em contos de fada nem em final feliz, e a família dizia que ela iria mudar de idéia quando se apaixonasse. Ela não se apaixonou, mas conheceu um cara legal, que pensava parecido com ela, e os dois namoraram e depois, sob aplausos da platéia, casaram. Tiveram três filhos. Ela tinha um emprego, ele tinha um emprego. Eram populares, católicos e felizes. Passaram-se os anos e eles seguiam populares, católicos e felizes. Outros tantos anos e eles eram o que os outros haviam se acostumado a pensar deles: populares, católicos e felizes, mas eles mesmos já não sabiam direito o que eram. Os filhos cresciam e a moça passava os dias cada vez mais anestesiada pela rotina, até que um belo dia ela comeu uma maçã e foi pra cama dormir. Não acordou mais. Quer dizer, ela levantava, tomava banho e saía para o trabalho, mas parecia morta. As pessoas não a notavam. Ela tampouco percebia os outros. E assim caminhavam todos para o final desta história quando surgiu um homem não se sabe de onde e reparou que ela parecia morta, mas não estava. Achou-a linda e deu-lhe um beijo. Ela acordou e sua vida começou a ser contada sob um novo ponto de vista

O cotidiano imutável nos envenena. É preciso um beijo para despertar para a vida. O verdadeiro príncipe é aquele que nos acorda e nos faz mudar o rumo da nossa história.

2 pitacos:

Anônimo disse...

Eu não conhecia esse texto da Martha Medeiros, ruiva. Mas foi inevitável ler e amar! Tomei a liberdade de postá-lo no Mosaico, mencionando a autoria e, logicamente, o link para essa sua postagem.
bjks

Anônima sofrida disse...

Amei,estou amando este blog ele tem tudo a ver comigo, tudo super romântico e fascinante.

 

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