segunda-feira, 23 de junho de 2008

Hoje de manhã, meu vizinho estava ouvindo uma música do Moska. É uma das que gosto mais: O último dia. E a música me remeteu ao filme que assisti ontem: Antes que termine o dia.
Ambos falam do que você poderia fazer, caso soubesse que só tem um dia de vida.
Fiquei pensando sobre o assunto, e imaginando o que eu faria se pudesse prever o dia que desprenderei da matéria.
Tal pensamento me levou a outro: como as pessoas reagem diante da possibilidade da morte. O que passa pela cabeça de alguém que tem uma doença grave ou uma que não tenha cura.

Há dois anos eu perdi um amigo que tinha idade igual a minha. Uma medicação errada causou a morte dele. Choque anafilático. O mais estranho nessa história era o comportamento dele dias antes do incidente. Ele estava realmente diferente. Preocupado em organizar a vida; em demonstrar à esposa o quanto a amava; em recomendar aos irmãos que cuidassem da mãe viúva; em fazer seguro de vida; em fazer pequenos reparos na casa..... E todas essas coisas que nos levam a pensar que, de alguma forma, ele sabia.

No filme em questão, o mocinho ama a mocinha, mas é macho alpha o bastante para não demonstrar isso. E ela morre. O destino, no entanto, dá a ele outra oportunidade. E ele faz tudo o que pode para salvar sua amada. E mais: ele consegue mostrar a ela o quanto a ama. Em dado momento da película, ele pergunta a ela o que ela faria, caso soubesse que só tem um dia de vida. A resposta dela não poderia ser mais previsível para o contexto do filme: "ficaria com você".
Piegas, previsível e bonitinho. ai ai....

Na música de Moska, ele nos dá opções inusitadas, como abrir a porta do hospício e trancar a delegacia. Ou dinamitar o carro e parar o tráfego e rir; andar pelado na rua; transar sem camisinha; entrar de roupa no mar... E a gente poderia acrescentar um sem números de opções nessa lista.

Na verdade, esse questionamento já estava latente, e tanto música quanto filme foram apenas o estopim para este texto. Isso tudo porque essa semana eu soube que uma pessoa muito muito querida está doente. Com uma dessas mazelas em que a cabeça entra em parafuso. Nada que não tenha tratamento e cura, mas que surtam assim mesmo.
E eu, que sinto dor pelos outros, sinto doer em mim. Sinto a ansiedade de imaginar se o tratamento vai dar certo; a angústia de pensar que tem os dias contados; de não querer se envolver com ninguém por achar que vai fazer o outro sofrer, e mil coisas parecidas.
Me coloco no lugar do outro, e concluo que não saberia fazer diferente. Acho até que ficaria (mais) rabugenta durante um bom tempo, sentiria dor no estômago enquanto não digerisse a informação, me afastaria das pessoas, acharia a sociedade escrota (opa, mas isso eu já acho), deixaria os pelos (todos eles, eka) crescerem e me esconderia numa cabana caindo aos pedaços no alto da montanha, me alimentando de frutinhas e folhas.
Brincadeiras a parte, a idéia de perder pessoas ou coisas que amamos é muito doída. Inclusive quando essa perda é do nosso tempo. E só de pensar em perder.... dá uma dor no meu peito. É um sentimento egoísta, eu sei. Mas nem tudo o que eu sinto é nobre. Desculpe.
No filme, o mocinho conseguiu transformar o dia do casal em algo cheio de vida. No livro A Walk to Remember, o mocinho torna a vida da menina em estado terminal muito mais agradável. O Moska nos faz pensar que pode ser divertido e inconseqüente.
Eu não sei bem o que fazer. Quem dera tivesse o poder de extrair a dor alheia, como o negão de The green mile. Mas a vida não é assim. Infelizmente.

E tudo o que posso fazer neste momento é dizer que respeito sua dor e seu silêncio. Você não vem sempre aqui, eu sei. Mas se vier, vai saber que é o que sinto. Me preocupo com você e quero te ver bem. Teria muito mais coisas a dizer, mas não consigo falar mais nada agora..

7 pitacos:

Bridget Jones disse...

Seja pra quem quer q seja a sua mesnagem amiga, com certeza vc conseguiu ao menos amenizar a dor desta pessoa tão especial pra vc...

Loosho puro isso, viu?

Anônimo disse...

Concordo com a Bridget.
Se eu soubesse q morreria amanhã, faria tanta coisa q vc nem acredita. Acho que ficaria feliz se recebesse um aviso prévio do tipo: vc só tem uma semana de vida. O gde problema é que a gente morre sem qq aviso, e mts vezes deixamos de fazer coisas essenciais, como beijar na chuva, entrar no mar de roupa e por aí vai.
Que vontade de matar o trabalho amanhã e viver um poquinho.
bjs

Surfista disse...

Talvez esse seja um dos seus textos mais profundos e bonitos. As citações ao filme, a música (excelente) do Moska contextualizaram muito bem. Belíssimo!

Li de cabo a rabo e fiquei matutando sobre vida, morte e convivência. Uma mocinha especial uma vez me disse que as pessoas parecem ficar felizes perto de mim. Se for verdade, acho que considero a minha missão terrena quase cumprida...

Ruiva disse...

BRI, espero que você esteja certa, viu? Beijos

ALFA, é por isso que procuro aproveitar a vida. E não esqueço de demonstrar amor a quem é importante pra mim. A gente não sabe quando vai ser a última vez que vai abraçar alguém..

SURFISTA, e eu nem tive a pretensão de ser profunda. Bem ao contrário, quando terminei de escrever, detestei e quase não publiquei. Mas era o que estava sentindo. E foi assim que ficou. Beijos pra tu.

Questão Fundamental disse...

Por que as pessoas só fazem coisas interessantes na iminência da morte?

Nina disse...

Ahhh pensar nisso me dá uma tristeza.... sei lá, tantas coisas a gente tem pra arrumar, nao é?? tanta gente que parece depender da gente, do nosso amor, do nosso cuidado... puxa, nao quero pensar nisso nao :(

Mas vc escreveu tao bacana... uma segunda chance seria algo bem interessante mesmo nao??!! mas tenho a impressao de que ela nao existe, entao o melhor é fazer com que a vida seja percorrida da melhor maneira possivel.

Um beijo

Mônica disse...

Voce falou sobre a morte contou estas histórias de uma maneira legal. Vou querer que ganhe.
Com carinho Monica

 

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