sexta-feira, 13 de maio de 2011

Sonhos Interrompidos

Essa semana, quando eu voltava do médico, minha irmã me ligou bastante nervosa. Um atropelamento tinha acabado de acontecer em frente ao trabalho dela. A garota morreu. Apenas alguns minutos depois de sair da segurança do prédio onde trabalhava. Um ônibus em alta velocidade - e a imprudência de atravessar pela via ao invés de usar a passarela - lhe custaram a vida, os sonhos e a paz dos familiares. Quem sabe se ela não tinha acabado de ligar pra casa e perguntado o que tinha para o almoço? E, de repente, ela nunca mais vai voltar pra casa. De repente, a mãe dessa menina não vai mais ter motivos pra viver. De repente o mundo acabou para uma família.
Na segunda eu cheguei no trabalho e recebi uma notícia ainda mais chocante: um aluno, de 4 anos, viu a mãe ser morta a facadas pelo pai. Duas crianças. A mãe tinha só 19 anos. E o menino..... um trauma pro resto da vida. Pro resto da vida! E ela... tinha planos de voltar para sua cidade natal, no Nordeste, e tentava ganhar a vida honestamente no Rio, enquanto isso. Daí um homem ciumento interrompe esses sonhos. Ela não vai ver o filho crescer e se tornar homem. Nunca mais vai pisar em sua cidade novamente, nem vai afagar o rosto da mãe. Os sonhos foram mortos com 40 facadas.
E na mesma segunda-feira, um menino de 16 anos foi morto na praça onde almoço todos os dias. Morto a tiros quando saía da escola, na rua da frente. Podem dizer que ele era envolvido com bandidos, mas ele estava tentando, não estava? A educação básica é obrigatória, mas o ensino médio não é. E se ele estava lá, numa segunda a noite chuvosa, é porque estava tentando ser alguém. Talvez tivesse sonho de ser professor, já que é uma das opções do IEPIC, ou talvez sonhasse só com uma vida melhor. Não importa, porque não vai mais acontecer.
Engraçado que, antes da Bê me ligar, eu voltava do médico pensando em como nossa vida muda sem que a gente queira. Na terça saí do trabalho prometendo à Claudinha que terminaria o cartaz da festa no dia seguinte. E que a ajudaria a pintar as toalhas que faltavam, pra que tudo estivesse pronto na quinta e a gente não se preocupasse com nada. Só que acordei quarta com o olho grudado e inchado. Conjuntivite severa, não da comum; era grave. E eu não posso voltar a trabalhar até segunda. De repente meus planos para a semana foram abortados por causa de uma doença ridícula e eu fiquei chateada. Queria ir pra aula de quarta e de quinta (a minha aula da noite, porque não liguei tanto de faltar ao trabalho), queria fazer a unha e ir jantar com minha avó, queria ir ao cinema ver Velozes e Furiosos. Não posso fazer isso essa semana, mas poderei tão logo melhore. Mas, e essas pessoas?
E quando a morte chega - porque ela chega de repente - e interrompe tudo? E quando saímos de casa com pendências - porque somos orgulhosos e queremos sempre ter razão -, quando magoamos pessoas que nos amam, quando deixamos de dizer o quanto amamos, e a vida acaba e não há mais tempo?
Sei que durante uns dias esse sentimento de urgência, de não deixar pra depois, vai ser forte, mas depois vai esmaecer até voltar ao coração de pedra do dia a dia que eu bem conheço. Mas enquanto isso durar, quero dizer aos que eu amo que eles são importantes, que minha vida é melhor com eles, que não quero brigar nem ter razão todo o tempo, mas quero que eles estejam comigo.
Até que a morte interrompa nossos sonhos.

3 pitacos:

Luciana Matos disse...

Eu trabalho aqui na Prefeitura, ao lado do prédio onde Dê trabalha e estava passando na hora em que o corpo saia. Passei a noite e o dia posterior com um nó na garganta.
Morte me choca. Não tô preparada, nunca perdi alguém próximo, e acho que se um dia isso acontecer eu vou me acabar inteira. Imagina, nunca mais ver alguém! Nunca mais! Nossa, não gosto nem de pensar.

bjo

Ruiva disse...

Lu, Dê ficou mais impressionada pq chegou poucos minutos depois. Segundo ela, o sangue ainda não tinha escorrido pra longe do corpo. E de repente, quando ela olhou de novo, já estava na calçada... "Quanto sangue pode ter no corpo humano?!", ela disse..
Triste, cara. Muito triste. Já perdemos pessoas queridas assim de repente. Um namorado dela, inclusive. É sempre um choque. A vida demora a entrar nos eixos de novo. Isso quando entra.
Peço sempre a Deus que me proteja de passar por isso de novo. Se algo assim acontece com um dos meus irmão, ou meus pais..... não sei se iria querer continuar a viver.

Pandora disse...

Postagem forte essa!!! Acho que o que há de mais certo em tudo é a morte, no final é nossa única certeza... Tenho medo de perder quem eu amo, tenho um certo medo da morte, não da minha, mas dos outros... E essa urgencia que as vezes sentimos de dizer "te amo", "fica comigo", "você é importante!" Que bom seria se ela não passasse nunca, que sempre tivessemos consciencia da brevidade da vida!!! Mas não é assim... e a gente segue vivendo e sofrendo... Tragico! Incrivel!

 

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