quarta-feira, 30 de julho de 2008

Texto por Roberto Freire

Você ama aquela petulante! Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu. Você deu flores que ela deixou a seco. Você levou para conhecer a sua mãe e ela foi de blusa transparente. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina o Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então? Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome...
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai ligar e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário, ele escuta Nelson Gonçalves. Ele não emplaca uma semana nos empregos, esta sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado, e ainda assim você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita de boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara? Não pergunte pra mim...
Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes de Woody Allen, dos irmãos Coen e do Robert Altman,
mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu prato "fettuccine ao pesto" é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desses, criatura, por que diabo está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação de matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim.
Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem. Caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Costuma ser despertado mais pelas flechas do cupido que por uma ficha limpa. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano Veloso. Isso são só referências. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá , ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem aos montes, bons motoristas e bons pais de família, mas mesmo assim, ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida. Isto é o amor...

2 pitacos:

Madame Mim disse...

Adoro este texto.
Se o amor fosse uma conta, acho que seria daquelas de fração, cheia de vírgula e regras de tr~es...bem complicadinho, :).
beijos

Bia disse...

Engraçado, já li (e tenho) esse texto assinado por Arnaldo jabor. Coisas da internet...

 

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