Ao Max

Quando a noiva jogou o buquê, ele correu e pegou.
Veio em minha direção. Me olhou com seu olhar mais tímido. Me sorriu seu sorriso mais doce. Entregou-me o buquê e apenas me disse "Você é a menina mais bonita que já conheci. Peguei esse buquê pra você". Seu sorriso me dizia coisas de sentimento, do amor, de um coração cheio de sonhos. A namorada do primo veio me confirmar a suspeita "Meu irmão quer namorar você." O olhar dele me disse que ele era único e especial. E que merecia alguém melhor que eu. Eu, a garota sem coração, não estava em condição de retribuir aquele sentimento. Não era, nem mesmo, digna dele.

Os anos passaram. Não tínhamos tanto contato. Apesar disso, às vezes achava que o sorriso dele ainda me dizia as mesmas palavras daquele dia.
E então, domingo me vem a notícia:

- De, você conhecia o irmão da Si, né?
- Conhecia o Max. Por que?
- Pois é..... ele morreu essa semana.
- ...............
- Mas morreu de que, tia? Assalto? Acidente? Bala perdida?
- Infarto.

Então foi assim que acabou o sorriso? Numa parada cardíaca aos 27 anos? Será que foi de tanto acelerar quando via passar a menina? Será que foi por medo de não passar na prova? Ou será que foi por preocupação com aquela conta tão alta que talvez o salário não seja suficiente?
Seja lá o motivo, me pergunto que sociedade é essa que provoca infarto em jovens de 27 anos. A morte já é estranha quando a pessoa viveu muito. Acho ainda mais assustadora quando a pessoa pouco viveu.
Não vou entrar no mérito da qualidade - pode-se viver muito em 27 anos (eu que o diga) - mas da quantidade mesmo. Tantas coisas pra ver, conhecer, sonhar e sentir... E a vida lhe foge assim, conversando com as colegas no trabalho, fazendo graça, rindo e brincando, bem do jeito que me lembro dele. No mínimo, com aquele mesmo olhar doce e sorriso tímido de anos atrás.

Nunca mais vou ver aqueles olhos. Mas aquela primeira imagem que tive deles, nunca me sairão da cabeça.