sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Amor de irmã - para minha Bê

Há bem uns dez anos eu tive um sonho estranho.

O lugar: uma espécie de mosteiro. Daquele que é igreja, aposento pros padres, cemitério e seminário, tudo junto, em uma ou duas quadras.

As personagens: minha irmã, eu e umas pessoas malvadas.

O enredo: não tão claro na minha cabeça, mas as pessoas malvadas estavam perseguindo a mim e a Be. E nós corriamos numa fuga desesperada por entre os pavimentos do mosteiro, procurando um esconderijo suficientemente bom.

Nunca tinha entendido bem esse sonho. Mas também nunca consegui esquecê-lo. Ao contrário.. algumas cenas são tão claras na minha memória, que parece que acabei de sonhar com isso.
E duas coisas que me chamam atenção nele é que eu enfrentava meus medos apenas pra proteger minha irmã. E eu pulava muros, entrava em salas, batia portas, subia e descia escadas.. sempre na tentativa de proteger a Be. Ela, apesar de mais nova, procurava não demonstrar o real medo que sentia, ao mesmo tempo em que tentava ME proteger.

Hoje, muitos anos depois, descobri que sempre agimos assim uma com a outra. Medos, inseguranças, traumas, temores os mais secretos possíveis... eu os escondia ou os enfrentava, apenas para proteger minha Be. E ela, ídem.
Conversamos e choramos horas a fio. E descobrimos mais semelhanças do que podíamos imaginar. E em meio a tantas confissões e tristezas, ouvi coisas tão bonitas que encontrei minha alma de novo.

Frases como "quando comecei no novo emprego tive tanto medo... você não estaria lá ao meu lado" (no primeiro emprego dela, trabalhamos e participamos juntas desde as primeiras etapas do processo seletivo), ou "que bom que eu moro com você de novo.. agora eu não estou mais sozinha". Ou ainda, depois de contar uma coisa que me fez chorar compulsivamente, me abraçar desesperada pra me fazer parar de soluçar, tal qual eu faço com meus alunos, e dizer "não, irmã, não chora assim não.. a culpa não é sua... eu te amo!!"

Sempre soube que o amor que nos une é forte e eterno, mas não podia mensurar o quão profundo era esse sentimento. Ainda hoje, voltando do mercado, disse a ela que "pra você pode parecer absurdo, mas quando as pessoas se surpreendem de nos darmos tão bem e sermos irmãs, é porque na maioria das familias isso não acontece. Irmãs, normalmente, se odeiam". Descobri que nunca nos odiamos. E mesmo naquilo que "invejamos" na outra, nos amamos.
Somos Sol e Lua, doce e azedo, claro e escuro, café e leite, água e vinho. Opostas. Mas também somos iguais.
E além disso, somos amigas. E irmãs.
Para todo o sempre. E para enfrentar qualquer parada.

Ela, agora, esta dormindo aqui do lado. E eu, enquanto velo o sono dela, escrevo aqui.

Hoje, o sonho fez sentido.
 

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