quarta-feira, 1 de abril de 2009

Um golpe

Eu queria falar sobre o golpe militar, já que foi há exatos 45 anos que ele foi posto em prática. Mas ae que é um assunto chato pra maioria das pessoas. Acontece que, até hoje, esse golpe me afeta diretamente.

Primeiro que foi por causa dele que não consegui me formar. Ok, ok... desculpinha de aluno incompetente. Mas meu tema de monografia é a educação no período da ditadura. E simplesmente não existem documentos da época. Por que?? Porque tudo o que poderia constituir prova contra eles, foi destruído. Então, sem documento, nada de monografia. Sem monografia, nada de diploma. E, nada contra Pereira Passos, a revolta da vacina, o Estado Novo e o ciclo do ouro, mas me recuso terminantemente a pesquisar meses a fio sobre um assunto mega manjado e que não me interessa quase nada.

Ok, mas daí que essa prática deles deixou um buraco na nossa história. E pra qualquer pesquisador, isso é de doer fundo no coração.

O regime militar trouxe algumas coisas boas, mas fez o Brasil andar pra trás em muitos sentidos também. Não vou entrar nos detalhes da questão, mas o que foi feito com a educação foi um verdadeiro retrocesso. O potencial que tínhamos, antes desta época, era tão grande e tão assustador que várias reformas foram feitas para destruir tudo isso. E a educação, tal qual a conhecemos hoje, é fruto da administração militar.

Isso sem mencionar a (in)capacidade de reivindicar qualquer direito que seja. Já reparou que a gente aceita tudo? Qualquer injustiça, qualquer desmando, qualquer arbitrariedade. Brasileiro aceita pagar as maiores tarifas telefônicas ever! Fico chocada. E quando surge uma criatura como eu, que não aceita esse tipo de coisa, as pessoas torcem o nariz, criticam, tentam fazer calar. E ainda dizem que não entendem "como uma pessoa processa o próprio patrão.... é por isso que esse país não anda". Só o que posso dizer é que o país não anda por causa de pessoas que pensam como ele, que se calam diante dos regimes autoritários que ainda vigoram, que desconhecem seus direitos, que se recusam a fazer uma avaliação crítica dos fatos.

Eu sei que hoje é um dia controverso. Alguns acham que é digno de comemoração. Outros, que se deveria lamentar profundamente. E eu, sinceramente, não sei. E não sei de verdade! Porque, pra ser muito sincera, não gosto dessa tal de democracia (já falei em algum lugar aqui que democracia mesmo, tal qual deveria ser, só na Ágora ateniense). Ela até tem seus prós, mas tenho visto muito mais contras. Em contrapartida, regimes autoritários são marcados pelo excesso de violência, o que também não é legal.

Não falo aqui como especialista, até porque não sou. Esses são apenas pensamentos confusos de uma pseudo-historiadora com insônia.

4 pitacos:

fátima disse...

concordo com absolutamente tudo o que vc. falou.
vivi e sofri na pele esse período, e também sou uma "rebelde" que processa patrão - e ganha!.

bj

Ozenilda Amorim disse...

É, todas as pessoas têm direito a ter uma opinião sobre tudo, e de fato respeito a sua e concordo quando você diz que a ditadura nos levou a um retrocesso na área da educação. mas não foi apenas esse regime, depois dele nada se fez para resolver o problema. Ao regime democrático que temos também não interessa que o povo seja despertado do seu berço esplêndido da ignorância.
;)

Unknown disse...

Ruiva,
Morri de pena quando li seu post. Seu tema é maravilhoso. Ia ajudar muito a entendermos a mediocridade do ensino que temos hoje. Precisamos tanto de professores de história críticos mas que consigam olhar o ser humano. Por causa de uma porcaria de um papel(seu diploma) você não pode dar aula de história. Apesar de ser historiadora.Por que esse espirito ninguem pode tirar de você

Elaine Gaspareto disse...

Olá!
Como assim, você é historiadora? E sem diploma? Que coisa, as surpresas não cessam!
Ruiva, eu tive um professor de geografia que foi preso político, Ele costumava dizer que se soubesse que a democracia pela qual ele lutou tanto ia dar nisso que deu ele teria ido plantar morangos com o irmão ao invés de ser revolucionário.Palavras de quem viveu a """ditabranda""".
Beijos, querida.

 

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